Opinião

A COP30 e os 30 anos do PDSA no Amapá - Por Juliano Del Castilo

A COP30 e os 30 anos do PDSA no Amapá - Por Juliano Del Castilo Cras eget sem nec dui volutpat ultrices.

Por Juliano Del Castilo Silva – Advogado

O grande desafio da COP30 e de seus participantes é sair dos discursos e avançar para ações práticas no enfrentamento da crise climática. Esse caminho, que muitos países ainda tentam trilhar, já foi experimentado com êxito no Amapá, durante a implantação do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA), entre 1995 e 2002, sob o governo de João Capiberibe (PSB).

Neste momento em que Belém, cidade vizinha, sedia um dos maiores eventos globais sobre mudanças climáticas, é oportuno refletir sobre a importância histórica e o legado do PDSA, um modelo pioneiro de desenvolvimento sustentável adotado como política de Estado no Amapá.

Mesmo jovem, tive a oportunidade de vivenciar parte da implantação desse programa, que se destacou justamente por sair da retórica ambiental e investir em políticas concretas de sustentabilidade, respeitando as comunidades locais e valorizando os recursos naturais da Amazônia.
Entre os exemplos bem-sucedidos, está a parceria com a comunidade de Iratapuru, onde foi instalada uma fábrica no meio da floresta para beneficiamento de produtos nativos, como a castanha. Hoje, essa comunidade mantém uma sólida relação comercial com a empresa Natura, o que garante autonomia financeira e melhoria da qualidade de vida de seus moradores.

Outro símbolo do PDSA foi a criação do Museu Sacaca, que valoriza a diversidade cultural do povo amapaense e homenageia o Mestre Sacaca, o “doutor da floresta”. Em reconhecimento a esse legado, o personagem será o enredo da Escola de Samba Mangueira no Carnaval do Rio de Janeiro em 2026.

O programa também foi inovador ao incentivar o estudo e a produção de fitoterápicos no IEPA (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá), utilizando princípios bioativos extraídos da biodiversidade amazônica. Isso representava um investimento estratégico em ciência, saúde e economia sustentável.

No arquipélago do Bailique, foram implantadas iniciativas de turismo ecológico, como a construção de um hotel de selva, e projetos educacionais como a Escola Bosque, que integrava saberes tradicionais e educação formal, voltada à realidade das comunidades ribeirinhas. A região também recebeu investimentos em pequenas fábricas de beneficiamento de produtos como mel, açaí e camarão — essa última chegou a fornecer para redes de supermercados como a Fortaleza. Embora hoje parte dessa estrutura esteja abandonada, o modelo ainda é referência.

Outro eixo importante do PDSA foi o incentivo à indústria moveleira, com estímulo à produção local de móveis e esquadrias a partir do uso sustentável da madeira. O governo passou a priorizar compras públicas de carteiras escolares, portas e janelas produzidas por empreendedores do estado. Para sustentar essa cadeia produtiva, foi criada a Escola Técnica da Madeira, nas proximidades do Distrito Industrial de Santana, formando mão de obra qualificada.

Essas são apenas algumas das muitas ações estruturantes promovidas pelo PDSA, que tinham como base o desenvolvimento com sustentabilidade, inclusão social e valorização da floresta em pé.

Enquanto o mundo debate soluções climáticas na COP30, o Amapá tem um exemplo real e concreto de que é possível aliar crescimento econômico, justiça social e preservação ambiental. Isso foi feito por decisão política firme e visionária de João Capiberibe, que implementou o PDSA como política de Estado — e não apenas como retórica de governo.

É hora de resgatar essa experiência e compreender que a Amazônia pode, sim, ser protagonista na solução da crise climática. Mas isso exige mais do que discursos: exige vontade política, planejamento e compromisso com as futuras gerações.

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