O Amapá teve o maior aumento no número de homicídios dolosos em relação a 2022: 45,5%; a seguir aparecem o Rio de Janeiro (+6,1%); Pernambuco (5,3%); Alagoas (2,2%) e Maranhão (1,8%)
O Amapá, que já havia sido o estado mais violento do Brasil em 2022, de acordo com o Monitor da Violência, viu a criminalidade disparar no primeiro ano da gestão do governador Clécio Luís. Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública divulgados nesta quarta-feira (31), o estado registrou um aumento de 45,5% no número de crimes letais em 2023, na comparação com o ano anterior.
Enquanto o Brasil como um todo apresentou uma queda de 4% nos homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, o Amapá contrariou a tendência nacional e se tornou um dos cinco estados com maior crescimento da violência.
Especialistas apontam diversos fatores que podem estar contribuindo para o aumento da violência no Amapá, entre eles: Tráfico de drogas, facções criminosas, falta de policiamento ostensivo e ineficiência do sistema prisional.
O aumento da violência no Amapá gerou críticas ao governo Clécio Luís. A oposição argumenta que o governador não apresentou um plano concreto de segurança pública para o estado e que as medidas tomadas até agora foram insuficientes para conter a criminalidade.
O Portal Amapá conversou dois ex-gestores da área de Segurança Pública no Amapá. As críticas ao modelo atual são praticamente as mesmas, quando a reportagem buscou ouvir quem entende do assunto.
Segundo especialistas da área, até agora o governador Clécio não apresentou uma Política de Segurança Pública para o Amapá, que possa romper com o modelo herdado do governo Waldez Góes, que só aumentou os índices de violência.
De acordo com esses ex-gestores, a explosão no número de homicídios e o aumento da letalidade policial, também geram uma desconfiança da população em relação aos órgãos de repressão do Estado.
“A Polícia do Amapá é uma das que mais mata no país, o governo continua enxugando gelo com a estratégia de pirotecnia e no final de cada ano, os números só aumentam como agora, onde o Amapá registrou um crescimento de 45% na taxa de homicídios”, afirmou um ex-gestor que preferiu se manter no anonimato.
O elo perdido entre a comunidade e a Segurança
Outro ponto diz respeito ao fim do policiamento comunitário, atuava como um elo entre a população e as forças de segurança. Através da proximidade e do diálogo constante com os moradores, os policiais comunitários identificavam e preveniam problemas de forma mais eficaz, construindo uma relação de confiança e colaboração.
Para um coronel da PM da reserva, ouvido pela reportagem, o maior problema da Segurança Pública está na concepção do modelo de policiamento. Ele aponta a política de desmantelamento do modelo de Segurança Pública que deu certo no Amapá em outras décadas como um dos fatores responsáveis pela exposão de crimes violentos nas cidades de Macapá e Santana.
"O desmantelamento das Unidades de Policiamento Comunitário e os ataques do governo Waldez Góes contra um modelo que deu certo e reduziu a violência no estado provocaram o fortalecimento do crime organizado em bairros pobres", criticou o oficial.
Ele afirma que o atual governo é refém de uma cultura política que está enraizada e que tomou conta das instituições, mas principalmente de alguns batalhões enraigados da Polícia Militar, uma instituição naturalmente conservadora, que atualmente é dirigida por um comandante com forte viés ideológico e que destoa do discurso do governador que é progressista.
"O governador Clécio não rompeu e não tem coragem de enfrentar essa cultura da matança e da pirotecnia do aparato policial, porque eles visam mais o impacto midiático de operações no varejo do que a política de resutados no atacado contra o crime organizado".
Antiga UPC do Ambrósio, desativada no governo Waldez Góes
Comunidades à mercê da violência
Com a extinção do programa, comunidades periféricas e áreas mais vulneráveis ficaram à mercê da violência, sem a presença ostensiva e preventiva da polícia, facilitando a ação de criminosos, que se sentem mais livres para cometer delitos como roubos, assaltos e tráfico de drogas. Ou seja, a sensação de insegurança se intensifica, e a população clama por medidas urgentes para conter a violência crescente.
O especialista afirma que Clécio deu continuidade ao modelo esgotado de Waldez na área da Segurança e não teve a humildade de retomar a experiência de Policiamento Comunitário por meios das UPC's que deu certo no Amapá.
"Não adianta colocar a culpa somente nas facções, pois as organizações criminosas existem em todos os estados e alguns casos com o poder de fogo muito maior que no Amapá. É preciso uma Política de Segurança Pública com inteligência e resposta ao crime, onde a população confie na Polícia, possa interagir e por outro lado, o Governo possa executar políticas públicas que possam priorizar os mais jovens, que todos os dias são recrutados na guerra do crime organizado", afirma o coronel da rerva da PM.
O governo Clécio não se manifestou a respeito da pesquisa.